Chamava-se Augusto de Athayde Soares de Albergaria e, embora nascido em Lisboa, em pleno Chiado, era de estirpe açoriana, achando-se sempre estreitamente ligado, pelos sentimentos, ao arquipélago de origem familiar, à sua casa de Ponta Delgada e ao seu justamente celebrado jardim botânico, a cuja preciosa conservação dedicou os maiores esforços, alguns sacrifícios e dedicadíssimo carinho.
O natural talento, conjugado com a aplicação, sempre manifestada em todas as tarefas que aceitava desempenhar, lhe assegurou os sucessos do seu curso de Direito, na respetiva licenciatura como no curso complementar, o 6º ano de então, nos quais alcançou sempre lugar distinto e cimeiro entre todos os colegas. Em consequência, prontamente e com amplitude, se lhe abriram as portas do ensino universitário, no qual serviu, ao melhor nível, em diversas escolas, entre elas a sua, de sua origem, a Faculdade de Direito de Lisboa, à qual sempre ficou ligado por grande carinho e excepcional compreensão dos seus problemas e das respetivas estruturas institucionais. Mas as suas mesmas salientes qualidades afastaram Augusto de Athayde da docência, por ter sido chamado ao desempenho das funções governamentais de Secretário de Estado da Juventude e Desportos, cujo cargo serviu, com o maior brilho, durante alguns anos, tendo a comunidade portuguesa ficado a dever-lhe, por decisões, na esfera das suas competências, como por sugestões e advertências, serviços do maior relevo.
Seguiu-se o tempo de exílio, durante o qual, em instituições de grande prestígio e projeção, em França como no Brasil, as excepcionais qualidades de Augusto de Athayde se reafirmaram, assegurando-lhe a continuidade em carreiras do maior brilho. Mas o portuguesismo, nele bem enraizado, sobrepôs-se a todas as perspetivas e, no regresso à sua Lisboa e, claro está, aos seus Açores, aquelas mesmas qualidades, de inteligência, de cultura, de aprumo, de graça e de descrição, o chamaram ao desempenho de cargos cimeiros e de presidência de grandes instituições de crédito. Contudo, manteve-se sempre, bem vivo, em Augusto de Athayde, o gosto do apurado universitário e do distinto jurisconsulto, bem reconhecido como autorizado especialista de Direito Administrativo e de Direito Bancário, disciplina esta que cultivou largamente, em profundidade, e regeu, em escolas superiores, ao melhor nível. Esses méritos lhe asseguraram também o ingresso na Academia das Ciências de Lisboa, da qual foi sócio correspondente e sócio efetivo, tendo aí apresentado notáveis comunicações sobre temas de Direito Bancário. Por onde passava, Augusto de Athayde sempre procurava bem cumprir, bem servir, ao alto nível da sua elevada capacidade. Os seus biógrafos saberão alinhar, com vasta cópia de elementos e datas, as extensas resenhas das suas obras, das suas comendas e das muitas e notáveis associações, de diversa ordem, às quais pertenceu e honrou com a sua presença. A mim, agora, a poucas horas sobre a notícia do seu falecimento, apenas caberá, em dolorosa saudade, pela privação de um grande Amigo, relembrar, a quantos o conheceram, que esse Homem, de rara sensibilidade, de grande saber, designadamente nos planos literário, económico e jurídico, de impecável trato, pletórico de espírito, de graça, de ironia, de bom humor, sem quebra de elegância e de benevolência, aliava a perfeita verticalidade das atitudes à aparente fragilidade das concordâncias. Era, realmente, um grande senhor.
Soares Martinez @ Açoreano Oriental
Recebeu a Grã-Cruz de Honra e Devoção da Ordem de Malta e a Grã-Cruz das Ordens de Cristo e do Mérito.