É sem dúvida uma honra estar a aqui neste jantar no nosso Colégio e participar neste Prémio, promovido pela Associação dos Antigos Alunos, com o nome José Carlos Belchior, figura incontornável que marcou a nossa geração, pelo papel que desempenhou no Colégio, assim como na defesa e equiparação do ensino privado em Portugal.
Mas é sobretudo uma grande alegria por ver esta distinção ser entregue ao meu colega, amigo e cunhado, Victor Manuel de Matos Carvalho Araújo, que para todos nós personifica os valores que este Prémio pretende distinguir.
Lembro-me que durante o nosso liceu termos recebido no Colégio a visita do Padre Pedro Arrupe, à época Geral da Companhia. O Padre Pedro Arrupe gostava de salientar que “os Colégios da Companhia têm como missão formar homens de serviço, homens abertos ao mundo e homens equilibrados”.
Por isso a escolha do Victor para receber este Prémio não podia ser mais apropriada.
O Vítor ingressou no Colégio em 1969 no então 1º ano do ciclo preparatório. Desde os primeiros dias de aulas que o Vítor, ou o ‘701’, pois nessa altura era habitual tratarmo-nos pelos nossos números, se distinguia em tudo o que fazia, pois para alem de ser um ótimo aluno a todas as disciplinas (português, matemática, futebol, andebol, …) tinha um talento especial para tudo o que era arte.
Mas com dizia o Geral Pedro Arrupe o objetivo da nossa escola “não é produzir monstros académicos ou devotos incapazes de entenderem e vibrarem com o mundo”.
Não tenho duvida que as vivências que tivemos aqui no Colégio : os campeonatos de futebol, os teatros nas festas das famílias, os retiros no Rodízio, as idas ao Baleal e as burricadas, ou ter que enfrentar um bezerro nas garraiadas do Campo Pequeno – ajudaram em muito a que esse equilíbrio seja um dom que vai permanecendo na vida de cada um de nós e de que o Vítor é um grande exemplo.
O talento do Vítor nunca se ficou só pelo desenho e no final do liceu um grupo de amigos, nos quais me incluo, decidiu fundar uma banda.
Estamos a falar dos Filhos da Pauta, nome que à época deu muito que falar… Para quem não sabe alguns dos superêxitos dos Filhos da Pauta têm letra e música do Vítor, que assim passou ao lado de uma grande carreira de compositor-autor , mas ganhamos todos um arquiteto ainda melhor!
O sentido de serviço que o Padre Pedro Arrupe refere, revelou-se no Victor muito cedo pela sua vontade de partilha do conhecimento e dedicação ao ensino.
Durante a licenciatura em arquitetura regressou ao Colégio onde foi professor de História da Arte e Teoria do Design a convite do Padre Belchior .
Mais tarde foi docente na Faculdade de Belas Artes e hoje é Professor pelo Instituto Superior Técnico, onde se doutorou com uma tese que deu origem ao livro com o título ‘Edifícios de Arquivo Futuros para o Passado’.
Nunca tive oportunidade de ser aluno do Victor, mas sei pelos amigos das minhas filhas que foram alunos dele, que as aulas do VCA (como ele é conhecido na faculdade), são das mais concorridas e onde todos os alunos querem participar.
Os prémios profissionais que o Victor ganhou e com certeza continuará a ganhar, como o Prémio AIP de Arquitetura de Reabilitação (com o projeto Monchique de reabilitação de habitações no Centro Histórico do Porto), ou o Premio SIL de Excelência (com o projeto do Novo Campus da Nova SBE), são o reconhecimento profissional de um homem aberto ao seu tempo e ao futuro.
Não vou ter tempo para citar todos os projetos que o Victor fez, mas para aqueles que ainda não conhecem o Novo Campus da Nova SBE aconselho a visitarem-no; projeto que o Vítor ganhou em processo concorrido com outras figuras de proa da arquitetura nacional e que posicionou o Campus desta Universidade entre os Campus de referência das melhores Universidades do mundo.
Conheço a prática profissional do Vítor há muitos anos e tive oportunidade de o acompanhar em alguns projetos de juventude. Por isso sei que existe um traço que é um traço singular no seu perfil:
O Vítor é um ‘artesão’ da arquitetura, que nunca quis industrializar o seu atelier.
Ele coloca todo o cuidado em cada detalhe de aquilo que faz, seja num pequeno desenho de pormenor quando está a recuperar um apartamento de alguém da família, seja no desenho um grande edifício de uma escola, ou um de um plano de pormenor de um empreendimento.
Porque a diferença entre ser bom e ser excelente está realmente no cuidado e no amor que ele coloca nos pequenos detalhes.
‘Homens equilibrados, homens de serviço e homens abertos’,
e acrescento homens com capacidade de sonhar a vida.
Muitas vezes com carinho em família e entre amigos dizemos ‘o Victor o nosso arquiteto é um sonhador…’.
Pois hoje homenageamos alguém que sobretudo teve e tem a capacidade de sonhar. Sonhar porque
nasceu numa grande família,
sonhar por um dia se ter apaixonado, por ter filhos, e por ter netos,
sonhar por fazer o liceu neste Colégio e viver os seus valores,
sonhar por ser arquiteto e fundar o seu atelier,
sonhar ensinar e partilhar o conhecimento com os outros,
e sonhar por fazer amigos.
Parabéns 701,
Obrigado Victor!
Elogio de Vítor Carvalho Araújo
Prémio José Carlos Belchior 2019
Por João Trigo da Roza