Esta Jornada Mundial da Juventude foi realmente, para mim, uma verdadeira jornada, um caminho, uma peregrinação na qual embarquei no 1° dia em que aceitei o desafio de fazer parte dela, a 335 dias de tudo acontecer, e que me traz hoje aqui, um ano mais velho, com bolhas nos pés e bem calejado, mas com a mesma energia e vontade, e com uma certeza: é de coração mais cheio que aqui estou… que aqui estamos. Para muitos aqui presentes, uma longa jornada de voluntariado, para mim, o meu 1º trabalho a sério, e logo este, de na Direção Pastoral da JMJ, fazer a Jornada acontecer. A nível pessoal, foi uma experiência de grande crescimento interior, na qual tive a oportunidade me conhecer melhor, de me reconciliar internamente, e mesmo que o caminho ainda seja longo, de mergulhar mais fundo, à descoberta de quem sou. Ao longo da minha vida, e à medida que crescia, já ciente do bem que me fazia o ajudar o outro, o voluntariado foi fazendo parte da minha vida. Desde animar crianças, entregar comida a quem precisa, fazer companhia aos mais velhos, pintar paredes… tive a oportunidade de experimentar um pouco de tudo, e mais do que isso, de me deixar ser experimentado por Deus em cada momento, e aí sim, começava a fazer sentido uma presença maior ao meu lado. Começava a sentir Jesus nos sorrisos, nas histórias de vida, nas canções desafinadas cheias de passado, na necessidade de companhia e na experiência da entrega. Todo este caminho me foi definindo como Francisco que sou hoje, e a Jornada Mundial da Juventude não foi exceção.
Ontem, com 24 anos, saído da faculdade, a entrada no mundo de trabalho e numa rotina de maior responsabilidade, a incerteza do futuro, era algo de que tinha medo, não só não me sentia preparado, como havia algo dentro de mim que estava por arrumar, como se fosse fazer uma viagem e soubesse que em casa tinha deixado a cama por fazer. Há uns meses não sabia o que era, mas hoje consigo pôr em palavras o que tenho sentido ao trabalhar no Comité Organizador Local da JMJ.
Nas orações e conversas diárias, encontrei paz. Na responsabilidade de outro mundo, encontrei desafio. Na minha família, encontrei inspiração. E nos meus amigos, deste e de outros países, aqueles que a vida me deu desde pequeno e os com quem trabalhei diariamente ao longo destes meses, encontrei Jesus. O ter sido parte desta Jornada deu-me coisas que eu não procurei, mas que muito precisava. Na entrega ao projeto, a constante responsabilidade desmedida, aquele badalar do “já só faltam 100 dias” que parece ter sido ontem, que me deixava inquieto ao acordar e que no entanto, agora, muitas memórias, sorrisos e saudades vai deixar. Um abre-olhos a novas realidades, uma fortificação da minha fé com base nas experiências dos que me rodeiam, uma amizade verdadeira no ambiente de trabalho, como todos os jovens deveriam poder experienciar em qualquer empresa. Tive a sorte de, ao longo deste último ano de preparação da JMJ, conhecer muitas pessoas, de todos os cantos do mundo, pessoas que hoje posso, de sorriso rasgado, chamar de amigos. A beleza da diversidade, as várias faces da igreja unidas para um propósito comum: sermos juntos a cara de um dos maiores eventos do mundo, de jovens para jovens, ao serviço de Deus, tendo Maria como exemplo de alguém que se levanta e apressadamente parte em missão, como todos faremos com alento e energia, ao encontro de quem de nós mais precisa.
Hoje, com 24 anos, saído da faculdade, a entrada no mundo do trabalho e numa rotina de maior responsabilidade, a incerteza do futuro, a bonita e desafiante incerteza do futuro, é algo que de medo passou a motivação, e esta motivação vai ficar comigo, e todos os dias me vai ajudar a fazer a cama e a continuar a aproveitar a viagem. Este Francisco que reconheci nos outros que comigo partilharam e continuam a partilhar as tristezas e felicidades da vida, hoje chega aqui, com o sentido de dever cumprido e com um caminho trilhado com passos de fé. Caminho esse que, rodeado de Deus e dos outros, sendo eu próprio, coerente com o meu eu dentro e fora da igreja, me permite hoje aqui dizer aquilo que de melhor aprendi, que antes tinha medo de dizer mas que hoje não tenho mais, e que certamente o digo também dando voz aos jovens aqui presentes: Eu quero ser santo!
Francisco Seabra, Agosto 2023