Na sua forma mais usual (quadrado) entende-se por quadro uma cercadura que procura definir numa superfície mais vasta, envolvente e homogénea, um espaço mais restrito destinado a destacar uma representação gráfica, pictórica ou outra. São vários e de todos conhecidos muitos tipos de quadro especialmente no campo da pintura mesmo desde a mais abstracta. Porém, este papel dirige-se muito especialmente a um: o Quadro de Honra que todos os que frequentaram alguns estudos conheceram mas há um tempo a esta parte caído em desuso sem ser por acaso, como se verá.

Em que consiste? Numa lista de pessoas elaborada por ordem do seu reconhecido mérito. O caso mais comum é estas pessoas serem alunos de uma escola que nela se distinguem pela excelência do aproveitamento obtido naquilo que lhes foi ensinado. Até aqui, tudo bem, e o participar neste era considerado uma honra cujo destaque premiava e estimulava os escolhidos e os que gostariam de o ter sido a praticarem e aplicarem o tipo de comportamento adequado.

Trata-se porém de uma Honra, ou seja, um conjunto de qualidades que justifica o respeito que se deve ter pelo seu detentor e, simultaneamente, levar este a agir ou comportar-se de modo a ser digno desse respeito. Este não é mais, e é muito, do que consciência da dignidade e da honestidade ou seja, os seus pressupostos: rectidão e seriedade. Ser integro, leal e sério são exactamente os atributos da honestidade e o seu contrário consiste em ser corrupto, falso e mentiroso. Se todos pendessem para o primeiro grupo, a vida em sociedade seria um mar de rosas e quase desnecessária a sua governação, reduzindo-se ao mínimo indispensável a arte de a exercer a que chamamos Política.

De uma forma geral, e infelizmente, não se atinge essa perfeição e isso abre mais a porta à política que avança sob o estandarte da criação de uma nova ordem. Simplesmente, o caminho para esse objectivo passa pela destruição das estruturas existentes, envolve tentativas de branqueamento, necessidade de apagar os acontecimentos especialmente os mais significativos, factos e “políticas anteriores”. Aos políticos interessa, só e sobretudo, a sua política. A que serve ou melhor se adapta de entre os grupos em que se dividiram, aqueles que lhes assegura o poder que tudo permite, quer lhe chamem ditadura ou democracia, esquerda ou direita. Nem os fins, nem os meios se justificam mas praticam-se em benefício dos políticos e em detrimento da generalidade do género humano.

Quem ler nos intervalos dos noticiários ou da meditação que for capaz de fazer sobre si próprio e a humanidade, a Declaração dos Direitos do Homem da ONU fica perplexo. A sua contradição com a realidade, cujo declínio para o precipício do futuro é crescente, só pode ser filha de uma ignorância e de uma ingenuidade inadmissíveis para um Organismo que pretende superintender um mundo em queda, ou de uma intencional malvadez que, para manipular os incautos, carece de uma camuflagem que a favoreça.

Reacção contra esta orientação organizada, ainda e só reside nos Valores como o é a Honra. Torna-se urgente por cómoda defesa eliminar as suas manifestações, uma delas talvez a mais incipiente, é o Quadro de Honra. Havia que lhe pôr fim com uma argumentação para cegos e aparentemente paternalista: A frustração dos pobres coitados que criariam complexos por não terem acesso a essa distinção. Este argumento é falso: o não acesso deve-se à falta de qualidade ou insuficiente aplicação; é negativo, sem nada trazer de útil pois o reforço de aplicação dos que, na realidade, quisessem ascender é sempre reforçável; é frustrante porque retira um estímulo aos que o merecem na tão melindrosa situação do mundo em que se vive; é anedótico, pois concretiza-se em nivelar pelas canelas o que só é compreensível para os futebolistas, sendo certo que não há botas para todos os candidatos e os que esperam a distinção só a aceitam em dinheiro e muito, o que desvirtua o desporto, a economia, e o senso comum entretendo uma multidão drogada. Acresce que o dinheiro imoral, por demasiado e injustificado, é de todos os pobres diabos que sofrem e morrem aos milhões, e é manipulado por um descarado encontro entre o poder económico e o político que é dominado pelo sistema da corrupção, velho como o mundo e a política.

Muito pelo contrário, a manutenção do Quadro de Honra constitui estímulo e prémio dos que o merecem, ordena-os, torna-os menos ignorados e infunde-lhes a consciência das suas responsabilidades que os tornará presa menos fácil dos desvarios do mundo e instrumentos mais operantes e esclarecidos de uma reacção, se ela for possível, ainda que seja para instalar uma nova política mais conforme aos valores humanos, pelo menos no início da sua prática enquanto destrói as estruturas existentes. Finalmente, como a vida e a escola não são a mesma coisa nem na matéria nem na forma de a tratar, os caminhos apontados pela escola não são, nem podem ser, os únicos. A experiência mostra que nem todos os seleccionados triunfam na vida enquanto muitos outros, que nunca passaram pelo Quadro de Honra, descobrem neles talentos que o programa de ensino não valorizou, desenvolvem esforços, lutas, capacidades de assumir riscos, tomando decisões, fazendo avançar o mundo e realizando-se a eles próprios de uma forma mais completa dos muitos que tinham tido tratamento de excelência.

A não existência de um Quadro de Honra constitui uma falha no esquema mais elementar de estimular méritos, desenvolvendo os que merecem destaque.
Suprimi-lo, constitui uma atitude negativa própria da panóplia dos meios destinados a enfraquecer ou a destruir os Valores cuja presença é ainda o único obstáculo independente e auto-portante contra a ameaça comprovada, apoiada na cada vez maior manipulação da humanidade, no sentido da perda de consciência da sua dignidade insubstituível. Qualquer grupo humano organizado e esclarecido tem de reconhecer o risco deste fenómeno e reforçar as suas defesas na participação num combate em que só pode ser o agredido. É imperioso que adopte todos os meios que lhe permitam evitar a passagem ao estado de vítima.

Uma Associação como a dos Alunos do Colégio São João de Brito não pode deixar de insistir pelo figurino proposto e que se lhe adapta como se fora feito à sua medida. Este texto, como resulta da sua leitura, funda-se em razões objectivas de carácter geral que explicam a supressão dos Quadros de Honra e justificam que, até e sobretudo para as contrariar, se lute pela sua reposição.

Porém, e antes de terminar, não quero deixar de abordar o problema em circuito circunscrito e com base em considerações subjectivas que são as minhas.
Embora não tendo sido eu aluno do Colégio S. João de Brito, sou Pai de nove Filhos e Filhas, e alguns dos rapazes frequentaram-no com comportamentos muito diversos relativamente ao Quadro de Honra: uns tendo lugar destacado e constante nele desde o início até ao final da sua permanência como estudantes, e outros, nunca foram objecto de qualquer menção nele, ou dispuseram de episódicas referências. Ora acontece que posso testemunhar que este facto não trouxe quaisquer constrangimentos ou consequências negativas nem para eles no seu relacionamento, nem para os outros Irmãos e para nós Pais. Importa ainda salientar que, para lá do facto do mais aplicado ter deixado mais cedo adivinhar tendências para o que seria a sua vida, os outros inseriram-se nos sectores que acabaram por descobrir e o seu comportamento ao longo da Vida confere-lhes felicidade no que fazem e asseguram a sua plena realização. Agora tenho 24 Netos. Muitos deles no S. João de Brito, outros em outros Colégios, onde funcionam Quadros de Honra e até de Excelência, e o fenómeno repete-se, e sobre um maior número de casos, e com efeitos benéficos e estimulantes.

O exemplo da distinção da primeira a merecer inscrição, tem levado as outras a conseguirem-no, esforçando-se um pouco mais e demonstrando que a revelação dos méritos depende, sobretudo, da aplicação e da vontade de cada um que os utiliza com mais ou menos intensidade quando quer. O exemplo vai servindo a todos e o êxito de uns alegra os outros e estimula-os no percurso que seguem segundo as suas personalidades e sem quaisquer complexos.
O Quadro de Honra, na minha experiência pessoal de Pai e Avô, não tem qualquer contra-indicação nem causou o menor constrangimento, muito pelo contrário. Por razões objectivas e de carácter geral, e subjectivas de carácter familiar, sou pela defesa dos valores e não posso deixar de apoiar qualquer forma de salvaguardar e prestigiar a Honra. O Quadro com este nome merece todo o apoio. A sua supressão é transigir com a mediocridade e é mais um passo para o abismo que a evolução da sociedade nos vem preparando, como se fossemos cegos conduzidos por zarolhos.

João Pedro Collares Pereira @ Loyola #4
Valado, Julho 2001